quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

Resenha | Battle Royale - Koushun Takami



Confesso que nunca fui muito fã da literatura ou da cultura pop japonesa, raramente me interesso por um anime ou por um mangá, sendo que no caso dos mangás só li um na vida - Na Prisão, de Kazuichi Hanawa (quem sabe um dia faço uma resenha sobre ele aqui?).


A resenha de hoje é de um livro japonês muito bem sucedido com edições em 17 países, vendendo mais de um milhão de cópias só no Japão e considerado por muitos o inspirador de Jogos Vorazes: Battle Royale, de Koushun Takami. Lançado originalmente no Japão em 1999, foi lançado no ano de 2014 no Brasil.


Sobre o autor: Koushun Takami nasceu em 1969, na cidade de Amagasaki, nos arredores de Osaka, Japão. Graduado a literatura, trabalhou como repórter na área político-econômica. Abandonou a carreira jornalística para se dedicar à literatura, mas não lançou nenhuma outra obra além de Battle Royale, que chegou até a final do Japan Grand Prix Horror Novel em 1997 mas foi desclassificado devido ao seu conteúdo deveras polêmico.


Sinopse:

Em um país totalitário, o governo cria um programa anual em que uma turma do ensino fundamental é escolhida para participar de um jogo. Os estudantes são levados para uma área isolada, onde recebem um kit de sobrevivência com uma arma para se proteger e matar os concorrentes. Uma coleira rastreadora é presa no pescoço de cada um deles. O Jogo só termina quando apenas um estudante restar vivo. Ao final do Programa, o vencedor é anunciado nos telejornais para todo o país. As regras do jogo foram criadas de maneira que não haja uma forma de escapar. E a justificativa da matança é mostrar para a população como o ser humano pode ser cruel e como não podemos confiar em ninguém - nem mesmo no nosso melhor amigo da escola.


Ficha Técnica:

Título: Battle Royale
Autor: Koushun Takami
Páginas: 664
Ano: 2014
Editora: Globo Livros
Gêneros: Ficção Juvenil, Ficção Japonesa, Distopia, Thriller, Horror
Minha avaliação:

Primeira coisa sobre esse livro: você precisa ter estômago para o ler, já explico porquê. Antes vamos ao começo.

Battle Royale se passa em uma linha do tempo alternativa, onde alguns países e territórios do sudeste asiático foram fundidos durante a década de quarenta em um só, chamado "República da Grande Ásia Oriental" e governado pelo Supremo Líder. Com um governo extremamente ditador, são permitidas pequenas liberdades, em contrapartida o acesso à informação externa, e até mesmo às internas, é extremamente escasso.

Para demonstrar ter controle e evitar dissidências em grande escala é  criado o Experimento Militar do Programa Nº 68, conhecido popularmente apenas como o Programa. O experimento é simples: anualmente uma turma do nono ano do ensino fundamental aleatória é selecionada para a execução do Programa e coleta de dados estatísticos. Os colegas de turma são levados a lutar entre si até que reste apenas um estudante, e ao sobrevivente é resguardada uma pensão vitalícia e um autógrafo do Supremo Líder.

A turma selecionada para o Programa do ano de 1997 é da província de Kagawa. Pensando estar indo para uma excursão, todos estão em um ônibus indo para algum lugar quando ocorre o sequestro da turma que é levada para uma ilha isolada, onde acordam, percebendo que ganharam uma coleira de metal e são informados que estão no Programa.

Em um mundo sem liberdades  conhecemos Shuya, Hiroki, Shogo, Kazuo, Mitsuko, Noriko, além de vários outros jovens, diferentes entre si, com suas personalidades, paixões e problemas, convivendo há pelo menos um ano (a maioria deles), e que se veem de repente sendo obrigados a "matar uns aos outros".

Após ganharem o kit de sobrevivência com armas aleatórias - de garfos, passando por flechas, a metralhadoras, mantimentos e um mapa, eles são liberados de um a um para a carnificina.

"Tramps like us, baby we born to run."
                       Bruce Springsteen, "Born to Run"

Logo no começo já podemos perceber a índole de cada personagem, e conseguimos separar aqueles que não suportam a ideia de matar os colegas daqueles que farão isso por prazer. A princípio a matança é generalizada: esfaqueamentos, decapitações, estrangulamentos, tiros a queima roupa, dentre outras formas de assassinato serão comuns por todo o livro. Tudo descrito de forma extremamente detalhista, horripilante e sangrenta.

Porém, com o número de estudantes vivos cada vez menor, o espaço entre uma morte e outra é mais longo, dando tempo de conhecermos mais sobre o passado de cada personagem. Não tem como não se emocionar com as histórias que lemos: a menina que se prostituía para sobreviver, o garoto apaixonado que nunca se declarou para a amada mas agora decidiu  a proteger a todo o custo, o rapaz que adora música e sonha ser um astro do rock como aqueles da América que ele escuta clandestinamente, e várias outras que te fazem ter empatia, nem que seja um pouco, até por aqueles mais cruéis (não todos, é claro).

Battle Royale é um exemplo perfeito de governo totalitarista que controla seu povo com brutalidade, usando uma mistura estranha de medo e pacificação. Também deixa claro a importância do acesso à informação, da cooperação e da liberdade de expressão para não cair em um sistema político como este.

Existe sim muita semelhança com "Jogos Vorazes", que me fez pensar duas vezes na ideia do tão discutido plágio por parte de Suzanne Collins, mas vou acreditar que seja apenas uma coincidência.


Curiosidades:

Battle Royale ganhou adaptação ao cinema em 2000 (trailer aqui, possui imagens fortes), com Takeshi Kitano e a atriz Chiaki Kuriyama, de Kill Bill. O cineasta Quentin Tarantino declarou que esse é um dos seus filmes favoritos e é a história que sempre quis filmar.

Também possui uma versão em mangá, lançada entre 2000 e 2005, com quinze volumes.


Deixe nos comentários a sua opinião. Já leu esse livro insanamente eletrizante? O que faria se estivesse no lugar dos garotos? Qual a sua opinião sobre o suposto plágio?

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